terça-feira, 29 de junho de 2010

Matéria do professor Hercules Azevedo

Futebol e política

Por [1]Hércules Azevedo da Silva

Após ter assistido a partida entre Alemanha e Inglaterra, realizada, no dia 27/6/2010, na África do Sul, não pude deixar de pensar na relação entre política e futebol. Sabemos que estes elementos, para muitos, fundam-se apenas por paixões e emoções, que naturalmente são despertadas em eventos onde estão envolvidos muitos atores e interesses. O que vemos de forma positiva, pois reconhecemos que paixão, interesses e contradições fazem parte daquilo que chamamos ritual da vida, portanto, de fundamental importância enquanto dimensão de nossa existência.
Assim, é preciso compreender que tanto o esporte bretão como a ação política são importantes momentos da construção do ser individual/coletivo , principalmente devido ao papel socializante que exercem no contexto histórico em nossos dias.
O Campeonato Mundial exerce sob a comunidade global e local, um grande fascínio à medida que age para além dos interesses macro-econômicos defendidos e representados pela FIFA, instituição que cresceu e ganhou peso e importância, a ponto de criar estruturas jurídicas e legislação que condicionam a participação de seus filiados, em competições patrocinadas por ela, a observação incondicional de seus preceitos legais em detrimento da Jurisprudência do Estado Nacional das mais diversas nações.
Futebol e política são temas que do ponto de vista sociológico estão intimamente entrelaçados, sendo assim, estão abertos os espaços para reflexão a respeito dos elementos relacionados ao processo de gestão do futebol no mundo. Pois, trata-se de questões que interessam a milhões de seres humanos, cujos sonhos e desejos são conduzidos e determinados, neste caso, por uma entidade privada que se coloca acima de tudo e de todos.
Quem deu legitimidade aos dirigentes do futebol mundial, que hora comandam a FIFA? Eles foram submetidos a um processo de escolha que passe pela aprovação da comunidade mundial? Outra questão que nos chama atenção diz respeito ao processo de transparência da gestão dos negócios realizados sob a bandeira da FIFA, cujos resultados não são auditados por nenhum mecanismo da sociedade civil mundial.
No âmbito das regras do jogo propriamente dito, é notório o desprezo que as chamadas autoridades do Association football têm em relação ao processo de evolução do esporte (tecnologia) . O que está em franco descompasso com a realidade, além de causar um profundo desconforto para árbitros e bandeirinhas, cuja limitação humana colabora na maioria das vezes para a ocorrência de erros e alteração de resultados sem que os mesmos possam utilizar de meios modernos que poderiam ajudá-los a corrigir rumos e tomar decisões que a experiência vem demonstrando alterar ânimos e modificar o caminho de jogos e campeonatos.
Reiterada a beleza e as emoções envolvidas com a realização da Copa do Mundo em terra africanas continuamos desejando e esperado: Quando a FIFA será transformada em uma entidade da comunidade mundial e não mais um instrumento apenas de acumulação de riqueza de um pequeno grupo de privilegiados.
O esporte ainda é um importante instrumento civilizador cremos nós. Só que seus órgãos dirigentes precisam estar submetidos à vontade de todos e não mais de uns poucos ditos iluminados.


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[1] Professor da Rede Pública, Licenciado em História, com Pós-Graduação em Prática e Planejamento do Ensino do Terceiro Grau pelas Faculdades Olga Meting e em Psicologia Transpessoal pela Faculdade Baiana de Medicina e Instituto Holon, atualmente, é Conselheiro do Conselho de Gestão das Organizações Sociais - Congeos.

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